Causa que se efeita

Foto: Francisco Diniz

Cantos que passarão
Ou pássaros que cantam?
De onde sai a causa
Que se efeita?

Ou de onde sai o efeito
Senão da causa?

A vida se dá
Ou algo dá a vida?
E de onde viria
A vida do algo?

O micro vem do macro
Ou o macro vem do micro?

E o amor do olhar nasce
Ou o olhar nasce do amor?

Da vida nasce o sonho,
Ou do sonho nasce a vida?

São tantas vidas para sonhar...

A água cresce a planta
Ou a planta eleva a água?

Pensamentos que materializam
Matéria que fluidifica...
Vai e vem
E vai...

Perguntas de mão-dupla
Que fazem circular respostas
De lá pra cá e de cá pra lá
Se joga, se brinca, se dança
Palavras vivas
Que movimentam
A vida...

Carolina  Coe

Silêncio

Foto: Francisco Diniz

"É fácil trocar as palavras,

Difícil é interpretar os silêncios!

É fácil caminhar lado a lado,

Difícil é saber como se encontrar!

É fácil beijar o rosto,

Difícil é chegar ao coração!

É fácil apertar as mãos,

Difícil é reter o calor!

É fácil sentir o amor,

Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?

Quem é que o saberá sonhar?

A alma de outrem é outro universo

Com que não há comunicação possível,

Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma

Senão da nossa;

As dos outros são olhares,

São gestos, são palavras,

Com a suposição

De qualquer semelhança no fundo."

                                                                                                                             Fernando Pessoa

O mar em mim

O mar...
Quanto mais profundo
Mais serenidade há...

Se raso está
Se agitam suas águas
Perturbadas pela cega falta de profundidade

Toda frequência de ondas
É quebrada...
O branco rompe a imensidão azul

A terra engole, faminta
A pobre atormentada pela superficialidade
A digere e devolve, ao que uma forte corrente
A suga para as profundezas...

O chamado pode ser aceito
Ou as recorrentes águas podem voltar
A quebrar na beira da praia...

Encurtando distâncias...

Foto: Francisco Diniz

Aceitas meu amor cego

E aceitarei teu amor mudo

Que no mistério de um silêncio agudo

Diz-me palavras do amor mais belo

Num vazio absoluto te escuto

E te sinto bem perto de mim 

Com minha mente que não quer parar, eu luto

E chego a crer que isso não tem mais fim

No íntimo  de minha alma

Acendestes uma brava chama

Para que a sede pela busca não cesse

E eu não me curve ao kama-manas

Assim seguimos distantes

E percebemos que para uma união eterna

Basta que amemos o mais puro de nosso Ser

E então, estaremos juntos, seremos unos

Inseparáveis, átomos, acima do tempo.

Carolina Coe

Onde devo estar?

Foto: Francisco Diniz

Nem você eu quero hoje

Não quero nada além de mim

Nada além de me achar

Nesse mar de coisas perdidas,

Que me deram e não são minhas

E me vejo nessa montanha de lixo

Sem saber o que sou e o que me atiraram

Sem saber o que fica e o que vai.

Buscando, cavando, descobrindo coisas

Que nem queria saber

Tentando respirar

Em meio a tanto entulho

Querendo saber se a essência se perdeu

Ou minha cegueira não me permite ver

Seu pálido brilho.

Aí não está a paz

Não está a felicidade

E longe está o êxtase

As vezes cavo sem parar 

Para encontrar

Mas flácido, meu corpo cai ao chão

E tudo que eu queria era adormecer

E nunca mais acordar.

Mas lembro da amostra que me foi dada

E sigo na estrada

Em algum lugar devo estar...

Tão perto que não consigo achar

Tão radiante que não posso ver

Um dia, um dia...

Carolina Coe

Estrela distante...

Ficou muito meloso, eu sei... mas foi o momento... =)

Ao longe cintilando

Tremeluzindo em um escuro manto

Brilhando sem parar

Em alternadas cores infinitas

Linda, bela, inspiradora

Longínqua, distante, inalcançável

Minha amante inefável

De meus sonhos manjedoura...

Nunca serás minha, nunca serei teu

Mas tenho em teu brilho meu guia

E cada vez que essa luz

Atingir os olhos teus, lembre

Não temos começo, nem meio, nem fim

Te dou certeza de tua existência

E aclaro sua missão em mim

Nunca se olvide, meu amor...

"Mi estrella lejana"... 

Carolina Coe