sábado, 14 de agosto de 2010

Eros e Psiquê


O mito de Eros (amor) e Psiquê (alma) tem várias versões. Eros (ou cupido), filho de Afrodite (ou Vênus), é um deus e Psiquê uma mortal. O mito gira em torno dos conflitos entre o coração e a alma e cada versão tem suas lições e peculiaridades. Achei um texto em um blog que conta algumas delas, para quem tiver interesse: Eros e Psique.

Fernando Pessoa, baseado na versão em que a alma (Psique) se sacrifica pelo amor (Eros), escreveu este poema belíssimo. Atentem para a última estrofe, releiam e viajem! Eu me encanto a cada leitura!

Vejam o vídeo com a narração de Maria Bethânia. Eu me arrepio toda! (risos)

    Conta a lenda que dormia
    Uma Princesa encantada
    A quem só despertaria
    Um Infante, que viria
    De além do muro da estrada.

    Ele tinha que, tentado,
    Vencer o mal e o bem,
    Antes que, já libertado,
    Deixasse o caminho errado
    Por o que à Princesa vem.

    A Princesa Adormecida,
    Se espera, dormindo espera,
    Sonha em morte a sua vida,
    E orna-lhe a fronte esquecida,
    Verde, uma grinalda de hera.

    Longe o Infante, esforçado,
    Sem saber que intuito tem,
    Rompe o caminho fadado,
    Ele dela é ignorado,
    Ela para ele é ninguém.

    Mas cada um cumpre o Destino
    Ela dormindo encantada,
    Ele buscando-a sem tino
    Pelo processo divino
    Que faz existir a estrada.

    E, se bem que seja obscuro
    Tudo pela estrada fora,
    E falso, ele vem seguro,
    E vencendo estrada e muro,
    Chega onde em sono ela mora,

    E, inda tonto do que houvera,
    À cabeça, em maresia,
    Ergue a mão, e encontra hera,
    E vê que ele mesmo era
    A Princesa que dormia.

    Fernando Pessoa

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