domingo, 15 de agosto de 2010

À Ana Vitória


Quando ainda estava na faculdade estagiei por 1 ano em um hospital infantil daqui de Natal, o Varela Santiago e sempre tive uma paixão pela fisioterapia neonatal... vivia enfurnada na UTI e enfermaria para recém-nascidos. Enfim, um dia apareceu uma bebê prematura de 6 meses, que nasceu com 600 gramas em Currais Novos e veio de lá para cá (umas 4 horas de viagem) sem oxigênio e sem o suporte médico considerado necessário nessas situações. E sobreviveu. Quando comecei a atendê-la ela já estava "grande", com 900 gramas. A coisa mais fofa do mundo, miudinha. A mãe dela só foi dar as caras 2 meses depois que a menina estava no hospital. Aí está ela na foto acima, só para vocês terem uma idéia da miudeza... essa mão é a minha.
Me apeguei demais a essa pequena e foi para ela que fiz esse poeminha:

Nasce ao longe e apressada uma pequenina
Sequer seus pulmões estavam formados
E com seus 600 gramas de menina
Seguia em um carro que parecia alado

Ao chegar à cidade, certo alívio encontrou
Tubos, ar, sangue, cânulas...
Salva talvez estivesse a pequena menina
Salva das mãos da morte, entregue à batalha da vida

Num corpo miudinho escondia-se um grande espírito
Um espírito de guerreira, brava, empinado como seu narizinho
Fez a todos apaixonar, com sua força e brilho infinitos
E ali não iria lhe faltar nem um pouco de carinho

Passaram-se 2 meses que veio ao mundo esse bebê
E até então não se sabia o real porquê
Da maldita mãe desta princesa não aparecer
Talvez fosse mesmo melhor fazê-la adormecer...

“Não manuseie sem luvas”, dizia um recado
Colado na sua incubadora, por uma certa doutora
Mal sabia ela a agonia que a princesa sentia
Ao não sentir o toque, ao ser privada de tal magia

Disseram-me que foi minha primeira filha
De coração, foi talvez mais que isso
Entendo que ela muito tem a ensinar à sua real família,
Mas quando partiu fez dentro de mim um rebuliço

Não podia haver nome melhor para a maior das guerreiras
Sem dúvidas foi um dia Amazona, a Ana Vitória
Hoje não sei por onde anda, em que fronteiras
Se sem eira nem beira ou se em meio a brincadeiras
Sei que nunca sairá da memória,
Ela foi e sempre será minha pequena guerreira.
Carolina Coe

6 comentários:

  1. Caracaaaaaaaa que lindooo!!! Eu te matooo Carol, morri de chorar!!!kkkkkk

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  2. Caramba Carol... vc fez eu lembrar de coisas q eu achava q tinha esquecido. Também adorava UTI Neonatal, e minha monografia de conclusão foi sobre estimulação na UTIN. Que saudades de tudo aquilo. Continue escrevendo, sempre!!!!
    Bjão, e boa sorte em tuuuuuuuuuuuuuuuuudo!!!!

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  3. Carol, adorei a poesia. A "pequena guerreira" ficou ótimo. BeijoFernando

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  4. Me arrepiei. Que história. Eu espero que quando crescer, a família conte tudo a ela, para que ela saiba o quão forte foi, e o quanto mais deve ser! E sua paixão pela fisioterapia é muito boa de se ver. Difícil encontrar alguém que realmente goste do que faz. Parabéns, e obrigada pela ajuda no dia do parto de Julia.

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  5. Carol: Seu blog continua lindo.Voce escreve bem e com muita sensibilidade.Escreva mais. Bj Tio Vivio

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  6. Essa minha amiga é poetisa mermo! Muito lindo, Carol... Ana Vitória deve tá por aí, cheia de verme e correndo de pés descalços na areia!

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